No dia 22 de Maio, numa sala com vista sobre Lisboa foi apresentada, das 12h às 20h, acompanhando a luz do dia, a peça-múltiplo que resulta de uma prática diária que Catarina Botelho levou a cabo durante cerca de meio ano. Ao longo dos dias, a diferentes horas, a artista fotografava de o mesmo ponto de vista e de modo frontal, uma parede e a luz que a banhava por via de uma janela contígua.
the other name of things
On May 22nd was presented in a room with a view above Lisbon, from 12h to 20h, throughout the day, a piece resulting of a everyday practice that Catarina Botelho did during half a year.Throughout the day, at different times, the artist photographed from the same frontal view point, a wall and the light cast on it by a lateral window.
01/06/10
Apresentação dia 22 de Maio de 2010 Palácio Marquês de TancosRua da Costa do Castelo 23, Lisboa
Presentation 22nd May 2010 Marquês de Tancos Palace, Rua da Costa do Castelo 23, Lisbon
imagens contidas na peça-múltiplo o outro nome das coisas
Representamos o objectivo e o subjectivo, a quantidade e a qualidade, o número cardinal e o ordinal, a desordem corpuscular e a música das esferas, a fatalidade e a liberdade. Representamos tudo isso, num cenário sólido, líquido e gasoso. E, por isso, comemos, bebemos, e respiramos;– três virtudes do fôlego animado, porque muda o que come, em sensações, o que bebe em sentimentos e o que respira em ideias claras ou obscuras, conforme é límpido o ar ou enevoado... É de sólida origem a sensação; o sentimento é já de origem fluídica; e, então, o pensamento é só cor azul ou imagem íntima da luz. Teixeira de Pascoaes
o outro nome das coisas, a um primeiro olhar surge como desviante do corpo principal da pesquisa de Catarina Botelho. (mas pergunto-me se não é o próprio trabalho que se está a desviar, a contornar, a encontrar um novo corpo.) A sua pesquisa afirmou-se num quadro composto pela observação epidérmica da sua intimidade, um registo que se situa para lá da forma dos corpos de com quem experiencia, vive, habita lugares e casas. Segunda pele é o título que reuniu, temporariamente, um conjunto de fotografias que pontuavam algumas das divisões da Casa de Serralves (em 2007). O relacionar das fotografias (e aquilo que a sua imagem desenha) com o espaço onde eram expostas (e.g. a coincidência da entrada de luz na imagem com a do espaço expositivo) foi um dispositivo iniciado nesta exposição. Em 2009, Dias Úteis, um projecto expositivo apresentado num edifício Pombalino abandonado, teve como principal impulso esta dinâmica da leitura da imagem em sintonia com o espaço onde o trabalho habita transitoriamente. O itinerário desta exposição, em espiral e semi-labiríntico, terminava nas águas furtadas do edifício, onde eram expostos dois trabalhos que tinham como principal motor a noção de tempo. "Modo Funcionário de Viver", um conjunto de sete fotografias, e o livro de artista "Termo de identidade e residência" surgem como configurações desta procura de fixar a transformação de determinados corpos, sob o efeito da variação da luz dos dias. “o outro nome das coisas” segue esta mesma senda: a parede de um espaço, vivenciado diariamente pela artista, é reconhecida como a interpretação de um determinado devir.
Se pensarmos no trabalho de Catarina Botelho enquanto registo da intimidade que lhe é circundante, podemos desdobrar esta observação em dois estratos: uma em trânsito ou em movimento (aquele ao que as pessoas, os frutos, os objectos e a luz pertencem), e um outro, que ocorre de uma estabilidade, e.g., o registo diário de uma única existência (umas almofadas, um auto-retrato, uma parede); uma mesma situação/um mesmo ponto de vista: para nela encontrar, nomear – e nesse gesto, fixar? – a progressiva diferença dada pelo compasso do tempo e pelas variações da dualidade entre sombra-luz. A reunião de um conjunto de imagens (quase-idênticas) num único objecto inscreve a ocorrência temporal do seu gesto. Na leitura deste objecto ocorre um efeito de palimpsesto. Ao correr das páginas, o enquadramento das áreas pintadas na parede delineia um mapa geográfico em mutação, de um mundo interior que é revisto, sobreposto, redesenhado diariamente.
Uma mesa para um livro
Um livro para uma mesa
Numa sala com vista para Lisboa, sobre uma mesa é apresentado um livro que resulta de uma prática diária que Catarina Botelho levou a cabo durante cerca de meio ano. Ao longo dos dias, a diferentes horas, a artista fotografou de o mesmo ponto de vista e de modo frontal, uma parede e a luz que a banhava por via de uma janela contígua. A partilha da intimidade, da sequencialidade e da transitoriedade do seu pensamento – ou da imagem íntima da luz – está inerente à proposta de leitura deste objecto.
Maria do Mar Fazenda
We represent the objective and the subjective, quantity and quality, the cardinal and ordinal number, the corpuscular disorder and the music of the spheres, fatality and liberty. We represent all of that, in a solid, liquid and gas scenario. And so we eat, drink and breathe;-three virtues of the animated spirit, because it changes what it eats into sensations, what it drinks into feelings and what it breathes into clear or obscure ideas, as the air is clear or foggy... solid is the origin of sensation; feeling is fluid;and thought is only the color blue or the intimate image of light.
Teixeira de Pascoaes
o outro nome das coisas (the other name of things), appears, at first, to be divergent from the core of Catarina Botelho's research work.(Although I ask myself if it is not the work itself that is diverging, circling, finding a new center). Her research has established itself within the framework of close observation of her intimacy, a register beyond the shapes of the bodies with whom she experiences, lives, inhabits places and houses. Second skin is the title that gathered, temporarily, a set of photographies dispersed along some of the rooms at Casa de Serralves (in 2007).
The relation of the photos (and what their image conveys) with the space where they were displayed (e.g.the coincidence of direction of the light source in the image and the display space) was a device first used during this exhibit. In 2009, Dias Úteis (useful days), an exhibition project presented in a deserted 18th century building, had as its main driving force this dynamic of reading the image in harmony with the space temporarily inhabited by the work. The itinerary of this exhibition, spiraling and near-labyrinthic, ended in the building's garret, where two photographs whose subject rested upon the notion of time were displayed. "Modo Funcionário de Viver" (Functional Way of Life), a set of seven photographs, and the artist's book "Termo de identidade e residencia" (Term of Identity and Residence) appear as different presentations of this quest to record the transformation of certain bodies, under the effect of the varying light of each day. "o outro nome das coisas" pursues the same path: the wall of a certain space, experienced daily by the artist, is recognizable as the interpretation of a particular future transformation.
If we consider Catarina Botelho's work as a record of her surrounding intimacy, we can this regard into to two aspects: one, in transit or in motion (to which people, fruit, objects and light belong) and another, that decurs from a stability e.g. the daily record of a single existecne (some pillows, a self-portrait, a wall); the same situation / the same viewpoint: to find and name - and therefore record?- the progressive difference assigned by the passage of time and the variations of the light-shadow duality. The assembly of a set of (nearly identical) images into a single objects assigns the temporal occurrence of that gesture. When reading this object, a palimpsest effect occurs. Along the pages, the framing of the painted areas on the wall outlines a mutating geographic map of an inner world that is reviewed, overlapped and redrawn daily.
A table for a book
A book for a table
In a room with a view over Lisbon a book is presented on a table. It results from a daily practise undertaken by Catarina Botelho during the course of a year and a half. Along the days, at different times, the artist photographed frontally and from the same point of view, a wall and the light that hit it from a nearby window. The sharing of intimacy, the transitory sequence of her thought - or the intimate image of light - is inherent to the proposed reading of this object.